Salmo 81:1-16
Este maravilhoso Salmo inspirado pelo
Espírito Santo foi trazido a todos nós através da sensibilidade poética do
líder musical Asafe. O texto merece grande destaque na história judaica
contendo profundos ensinamentos que nos levam ao estudo e meditação para o aprofundamento
dos mais belos valores cristãos de obediência aos mandamentos divinos e
consagração absoluta ao Senhor.
Não existe um consenso do tempo exato da
composição do Salmo. Alguns estudiosos afirmam que foi composto para as Festas judaicas
(onde eram tocadas as Trombetas), outros o ligam ao retorno da Arca da Aliança
que esteve perdida e foi resgatada pelo Rei Davi. Finalmente, alguns afirmam
que foi composto para a Festa da segunda dedicação do Templo construído por
Neemias na volta do exílio babilônico.
Um aspecto importante nesse contexto
histórico é a presença de um elemento comemorativo na primeira parte do salmo.
Há evidências muito claras no próprio texto que o contexto da mensagem é um
marco na história litúrgica judaica. Aquele era um momento especial de louvor e
adoração a Deus que levava seus filhos a se comprometerem novamente com os mais
ricos valores de Sua Palavra. Certamente o Salmo 81 retrata um momento singular
preparado para reafirmar os aspectos e os valores do pacto de Deus com seu
povo. O texto nos conduz a uma reflexão para um tempo de renovação da aliança.
UM MOMENTO PARA RENOVAÇÃO DA ALIANÇA
A primeira parte do texto (v.1-5)
enfoca um aspecto histórico comemorativo e uma motivação para o louvor a Deus.
Esta parte se torna uma preparação para a apresentação dos termos do pacto e o
incentivo à obediência. Eis alguns aspectos maravilhosos desse momento de
louvor a Deus.
a)
Cantai de júbilo a Deus, nossa força
(v.1) – “O Senhor é a minha força e o meu
escudo; nele confiou o meu coração, e fui socorrido; pelo que o meu coração
salta de prazer, e com o meu cântico o louvarei”. (Salmo 28:7).
b)
Celebrai ao Deus de Jacó (v.1) - “Celebrai com júbilo ao Senhor,
todos os habitantes da terra. Servi ao Senhor com alegria, e apresentai-vos a
ele com cântico. (Salmo 100:1-2).
c)
Salmodiai com o tamboril e a harpa (v.2)
– “Vinde, cantemos alegremente ao Senhor,
cantemos com júbilo à rocha da nossa salvação. Apresentemo-nos diante dele com
ações de graças, e celebremo-lo com salmos de louvor” (Salmo 95:1-2) e “Bom é render graças ao Senhor, e cantar
louvores ao teu nome, ó Altíssimo, anunciar de manhã a tua benignidade, e à
noite a tua fidelidade, sobre um instrumento de dez cordas, e sobre o saltério,
ao som solene da harpa” (Salmo 92:1-3).
d)
Tocai a trombeta nos dias especiais de
Festa (v.3-5). Esta cerimônia especial foi uma ordem divina estabelecida em
Números 10:1-10 e tinha vários significados. Elas serviam de comunicação para o
povo das atividades religiosas e demonstravam que haveria uma ação divina. A importância
fundamental dessa manifestação litúrgica era a criação de memorial da presença
de Deus e ação divina em favor dos seus filhos amados -“Semelhantemente, no dia da vossa alegria, nas vossas festas fixas, e
nos princípios dos vossos meses, tocareis as trombetas sobre os vossos
holocaustos, e sobre os sacrifícios de vossas ofertas pacíficas; e eles vos
serão por memorial perante vosso Deus. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Números
10:10).
A segunda parte do salmo (v. 6-16) é a
parte onde encontramos uma mensagem divina e um apelo a uma vida de fidelidade
e obediência ao Senhor. O louvor e manifestações litúrgicas servem de
preparação para a Palavra de Deus, que virá a seguir.
A partir do verso cinco podemos perceber
uma mudança significativa da linguagem do salmo. O salmista declara que estava
ouvindo outra voz que falava de maneira diferente e incisiva: “em uma linguagem desconhecida eu ouvi
alguém dizendo” (v.5). Esta expressão mostra claramente que, assim como o
pai disciplina ao seu filho amado, a voz de Deus iria exortar o seu povo. Com
toda certeza, esta voz somente poderia ser reconhecida e entendida após o
momento de adoração e quebrantamento de coração – “Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se é que guardamos
firme até o fim a nossa confiança inicial; enquanto se diz: Hoje, se ouvirdes a
sua voz, não endureçais os vossos corações, como na provocação” (Hebreus
3:14-15).
Aqui vemos que Deus estabelece os termos
do pacto com seu povo. Deus expõe as regras com muita clareza para que tudo seja
obedecido e cumprido por seus filhos amados. Os termos não são novidade, eles serão
sempre os mesmos princípios de amor e obediência ao Deus nosso Senhor. Os
termos da renovação da aliança com Deus estão bem claros na Palavra dita pelo Senhor.
- O QUE DEUS JÁ FEZ PELO SEU
POVO (V.6-7).
a)
Libertou seu povo de quatrocentos anos
de escravidão no Egito (v.6) – “Portanto
dize aos filhos de Israel: Eu sou Javé; eu vos tirarei de debaixo das cargas
dos egípcios, livrar-vos-ei da sua servidão, e vos resgatarei com braço
estendido e com grandes juízos. Eu vos tomarei por meu povo e serei vosso Deus;
e vós sabereis que eu sou Javé vosso Deus, que vos tiro de debaixo das cargas
dos egípcios” (Êxodo 6:6,7).
b)
Ouviu a oração e o clamor do sofrimento dos
seus servos (v.7) – “Mas os egípcios nos
maltrataram e nos afligiram, e nos impuseram uma dura servidão. Então clamamos
ao Senhor Deus de nossos pais, e o Senhor ouviu a nossa voz, e atentou para a
nossa aflição, o nosso trabalho, e a nossa opressão; e o Senhor nos tirou do
Egito com mão forte e braço estendido, com grande espanto, e com sinais e
maravilhas; e nos trouxe a este lugar, e nos deu esta terra, terra que mana
leite e mel” (Deuteronômio 26:6-9). “E
invoca-me no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Salmo 50:15).
c)
No tempo certo apresentou uma resposta
poderosa e eficiente (v.7) – “Então
Moisés estendeu a mão sobre o mar; e o Senhor fez retirar o mar por um forte
vento oriental toda aquela noite, e fez do mar terra seca, e as águas foram
divididas. E os filhos de Israel entraram pelo meio do mar em seco; e as águas
foram-lhes qual muro à sua direita e à sua esquerda” (Êxodo 14:21-22). Para
libertar seu povo Deus movimenta as forças da natureza que Ele mesmo criou e
mostra seu imenso poder e amor.
d)
Mostrou cuidado e misericórdia com o seu
povo e providenciou água da rocha em Meribá – “Mas o povo, tendo sede ali, murmurou contra Moisés, dizendo: Por que
nos fizeste subir do Egito, para nos matares de sede, a nós e aos nossos
filhos, e ao nosso gado? Pelo que Moisés, clamando ao Senhor, disse: Que hei de
fazer a este povo? daqui a pouco me apedrejará. Então disse o Senhor a Moisés:
Passa adiante do povo, e leva contigo alguns dos anciãos de Israel; toma na mão
a tua vara, com que feriste o rio, e vai-te. Eis que eu estarei ali diante de
ti sobre a rocha, em Horebe; ferirás a rocha, e dela sairá água para que o povo
possa beber. Assim, pois fez Moisés à vista dos anciãos de Israel. E deu ao
lugar o nome de Massá e Meribá, por causa da contenda dos filhos de Israel, e
porque tentaram ao Senhor, dizendo: Está o Senhor no meio de nós, ou não?” (Êxodo
17:2-7).
- O QUE DEUS EXIGE DO SEU POVO
(V.8- 10).
a)
Afastar-se completamente da idolatria
(v.9). “Eu sou o Senhor teu Deus, que te
tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de
mim” (Êx 20:2-3). Idolatria é depositar a confiança e a fé em outros deuses
– “Pois, ainda que haja também alguns que
se chamem deuses, quer no céu quer na terra (como há muitos deuses e muitos
senhores), todavia para nós há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e
para quem nós vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as
coisas, e por ele nós também” (I Co.8:6-7). Então, a idolatria é depositar fé
naquilo que nada pode fazer, ou seja, idolatria
é falta de fé.
b)
Confiar unicamente no Senhor. A resposta
direta de Deus (v.10) é “Eu sou o Senhor
teu Deus que tirei da terra do Egito” A confiança do povo deve ser
depositada somente e unicamente em Deus. Deus não admite dividir a sua glória e
louvor com ninguém – “Dize-lhes pois:
Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Maldito o homem que não ouvir as palavras
deste pacto, que ordenei a vossos pais no dia em que os tirei da terra do
Egito, da fornalha de ferro, dizendo: Ouvi a minha voz, e fazei conforme a tudo
que vos mando; assim vós sereis o meu povo, e eu serei o vosso Deus”
(Jeremias 11:3-4).
c)
E como consequência para uma vida de
obediência e confiança Deus ainda fala da satisfação plena do seu povo, a verdadeira
prosperidade: “abre bem a tua boca e ta
encherei” (v.10) – “Confia no Senhor
e faze o bem; assim habitarás na terra, e te alimentarás em segurança. Deleita-te
também no Senhor, e ele te concederá o que deseja o teu coração” (Salmo
37:3-4).
- O EXEMPLO NEGATIVO DO PASSADO
(V.11-12).
a)
O povo foi desobediente e não andou nos
caminhos do Senhor (v.11) – “Acaso trocou
alguma nação os seus deuses, que, contudo não são deuses? Mas o meu povo trocou
a sua glória por aquilo que é de nenhum proveito. Espantai-vos disto, ó céus, e
horrorizai-vos! ficai verdadeiramente desolados, diz o Senhor. Porque o meu
povo fez duas maldades: a mim me deixaram o manancial de águas vivas, e cavaram
para si cisternas, cisternas rotas, que não retêm as águas” (Jeremias
2:11-12).
b)
Andaram segundo a teimosia do seu
próprio coração (v.12) – “Mas isto lhes
ordenei: Dai ouvidos à minha voz, e eu serei o vosso Deus, e vós sereis o meu
povo; andai em todo o caminho que eu vos mandar, para que vos vá bem. Mas não
ouviram, nem inclinaram os seus ouvidos; porém andaram nos seus próprios
conselhos, no propósito do seu coração malvado; e andaram para trás, e não para
diante” (Jeremias 7:23-24).
- O QUE DEUS PODE FAZER POR SEU
POVO (V.13-16).
São
maravilhosas as promessas de Deus aos seus servos fieis (v.8-9) – “Assim diz o Senhor, o teu Redentor, o Santo
de Israel: Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te ensina o que é útil, e te guia
pelo caminho em que deves andar. Ah! se tivesses dado ouvidos aos meus
mandamentos! então seria a tua paz como um rio, e a tua justiça como as ondas
do mar também a tua descendência teria sido como a areia, e os que procedem das
tuas entranhas como os seus grãos; o seu nome nunca seria cortado nem destruído
de diante de mim.” (Isaías 48:17-19).
a)
Vitória completa sobre os inimigos e
adversários (v. 14):
a.
Os inimigos e adversários seriam
dominados e transformados em servos (v.15) – “Feliz és tu, ó Israel! quem é semelhante a ti? um povo salvo pelo
Senhor, o escudo do teu socorro, e a espada da tua majestade; pelo que os teus
inimigos te serão sujeitos, e tu pisarás sobre as suas alturas” (Deut.33:29).
b.
Essa situação vitoriosa não seria
passageira, mas duraria eternamente (v.15) – “Eis que vêm os dias, diz o Senhor, em que cumprirei a boa palavra que
falei acerca da casa de Israel e acerca da casa de Judá. Naqueles dias e
naquele tempo farei que brote a Davi um Renovo de justiça; ele executará juízo
e justiça na terra. Naqueles dias Judá será salvo e Jerusalém habitará em
segurança; e este é o nome que lhe chamarão: O SENHOR É NOSSA JUSTIÇA” (Jeremias
33:14-17).
b)
A bênção de Deus como consequência da
obediência:
a.
Deus os sustentaria com o trigo mais
fino – sustento constante (v.16) - “E as
eiras se encherão de trigo, e os lagares trasbordarão de mosto e de azeite. Comereis
abundantemente e vos fartareis, e louvareis o nome do Senhor vosso Deus, que
procedeu para convosco maravilhosamente; e o meu povo nunca será envergonhado. Vós,
pois, sabereis que eu estou no meio de Israel, e que eu sou o Senhor vosso Deus,
e que não há outro; e o meu povo nunca mais será envergonhado” (Joel
2:24,26-27).
b.
Deus os saciaria com o mel da rocha –
prazer incomensurável (v.16) - “Como a
águia desperta o seu ninho, adeja sobre os seus filhos e, estendendo as suas
asas, toma-os, e os leva sobre as suas asas, assim só o Senhor o guiou, e não
havia com ele deus estranho. Ele o fez cavalgar sobre as alturas da terra, e
comer os frutos do campo; também o fez chupar mel da rocha e azeite da dura
pederneira, coalhada das vacas e leite das ovelhas, com a gordura dos
cordeiros, dos carneiros de Basã, e dos bodes, com o mais fino trigo; e por
vinho bebeste o sangue das uvas” (Deut. 32:11-14).
Os
símbolos e as festas do passado sempre foram instrumentos de formação dos
valores e condução do povo nos caminhos da obediência aos preceitos do Senhor
Javé. Este Salmo deveria ser cantado e utilizado como instrumento especial de
Deus para uma renovação da aliança com o Senhor.
Essa didática do nosso Pai Celestial
é muito comum na Escritura. Quando o povo de Deus recebeu a lei através de Moisés
a lei foi repetida várias vezes para que fosse sempre lembrada e praticada por
várias gerações. Um livro da Bíblia é uma repetição dessa lei. É o livro de Deuteronômio.
Antes de Josué entrar na terra prometida ele coloca novamente esses preceitos
diante do povo e conclama o povo a se consagrar renovando a aliança com Deus – “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com
sinceridade e com verdade; deitai fora os deuses a que serviram vossos pais
dalém do Rio, e no Egito, e servi ao Senhor. Mas, se vos parece mal o servirdes
ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a quem serviram
vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra
habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:14-15).
O Salmo 81 é uma grande lição de
amor de Deus por seu povo. Era cantado nos momentos de festa para servir de
memorial. Mostrava o que Deus tinha feito e o que Deus poderia ainda fazer. Era
uma grande motivação para uma vida melhor do povo escolhido. Uma vida melhor
significa sempre voltar-se para os braços do Pai Celestial e refazer os
compromissos. Que este momento seja uma oportunidade única para uma renovação
da aliança com o nosso amado Pai.
“Eis que os dias vêm,
diz o Senhor, em que farei um pacto novo com a casa de Israel e com a casa de
Judá, não conforme o pacto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela
mão, para os tirar da terra do Egito, esse meu pacto que eles invalidaram,
apesar de eu os haver desposado, diz o Senhor. Mas este é o pacto que farei com
a casa de Israel depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei a minha lei no seu
interior, e a escreverei no seu coração; e eu serei o seu Deus e eles serão o
meu povo” (Jeremias 31:31-33).